Em entrevista, Andrio Robert fala sobre as inspirações para performance com teor político
Robert expõe seu ponto de vista sobre a "Síndrome de Vira-lata" que envolve os brasileiros em nova performance que fala sobre Democracia, Poder e Justiça do GNL!
1940: O trabalho liberta!
2016: Não pense na crise, trabalhe!
O trabalho que ganhou força
baseando-se nas palavras de Michel Temer, “Não pense na crise, trabalhe!”,
dramaturgia assinada por Andrio Robert, Maluz e Ingrid Mika, reflete sobre questões
socias envoltas em torno do trabalho, democracia, justiça, poderio e política.
“Nós não podemos mais falar em crise.
Trabalharemos. Aliás, há pouco tempo, eu passava por um posto de gasolina na
Castelo Branco e o sujeito botou uma placa lá. “Não fale em crise, trabalhe”.
Eu quero ver até se eu consigo espalhar essa frase em 10, 20 milhões de
outdoors por todo o Brasil, porque isso cria também um clima de harmonia, de
interesse, de... de... otimismo, não é verdade? Então... não vamos falar em
crise, vamos trabalhar. O novo lema, não é um lema de hoje. Nosso lema é ordem
e progresso” (Michel temer, 2016)
Em uma
entrevista sobre o processo criativo do experimento cênico, criado
para ser apresentado durante um congresso do Sindipetro, em junho de 2018, o
diretor e produtor do Grupo NaLona fala como embasou-se em um tema estritamente
delicado que põe à mesa a “Síndrome de Vira-lata do brasileiro”, a forma como
as coisas em nosso país pendem a um lado muito Colonial e a maneira que vemos o
Brasil como sendo sempre um país inferior aos demais. Para ele, seria nesse
sentido que o poder encontra uma brecha para se estabelecer em nosso meio.
Consequentemente
tomando um posicionamento político, mesmo sendo evitado, a cena breve mostra a
maneira como as relações do poder se materializam através de um alguém que
sempre o defenderá, que realiza suas ordens e abre o espaço para a dominação de
seu superior, aqui representado como as vontades e os desejos do governo.
“Diante de
tudo que tem acontecido, da Lava Jato, por exemplo, a gente entende que esse
poder se fortalece quando ele é legitimado pela justiça. Então essa justiça
está do lado de quem?” – questiona o diretor e produtor, o qual diz que, à
princípio, via o concluir dessa história com um final diferente, entretanto, a
mensagem não seria comunicada da maneira como era objetivada.
A primeira
analogia que surgiu durante o processo criativo, foi uma antiga conhecida do
grupo NaLona: a água. Enquanto o povo era visto bebendo de uma água suja,
representada como a falta de direitos, a perda e os retrocessos, o poder
saciava-se de uma água limpa em sua taça. Como a água é um direito básico que já não é
mais garantido no mundo às pessoas, ela é enxergada como algo que beira a
conformidade: enquanto estivermos bebendo dessa água suja, continuaremos
bebendo da mesma. A água limpa, representando a liberdade e os direitos, continua
nas mãos do poder.
A frase dita
pelo presidente, demonstra veemente o desejo que os governantes têm, que seria
o de ninguém falar em crise, ninguém pensar em revolução e usar isso contra o
poder e a justiça, mas apenas continuar trabalhando. Andrio Robert ainda defende
que: “Não fale em crise, trabalhe, é uma frase muito perigosa levando em consideração
as análises de discurso, porque essa é uma frase que se assemelha muito àquela
que ficava nos portões de campos de concentração durante a segunda guerra
mundial: ‘O trabalho liberta’”
No blog Livre
Pensamento, o escritor Maurício diz que: “A retórica de buscar culpados é
largamente utilizada pelos conservadores da atualidade e por toda a História. É
assim quando culpam a vítima pelo estupro. É assim quando culpam a criança por
ser arteira. É assim quando culpam o trabalhador pela crise do Capital.”
(Acesse a matéria completa clicando Aqui)
O dito popular “O trabalho edifica o homem” é um dizer muito
perigoso, porque pode ser manipulável para interesses de retenção de poder e
anestesia social que faz as pessoas entrarem na conformidade de que tudo está
bom da maneira que está. Um pouco da
missão que o trabalho performático do GNL traz é a de repensar sobre esses
assuntos e questionar o porquê de as coisas sempre terem sido assim.
O Poder
Americano, importante personagem da performance, representa como se fosse uma
espécie de domínio para os demais poderes, afinal, quase todas as lideranças
mundiais se dobram ao poder dos EUA. Trazendo, também, novamente a questão da
síndrome de vira-lata, em que a realidade se transforma no “sonho americano”,
que nos manipula e nos põe em foco outros objetivos além de querer mudar essa
realidade e desejar um país melhor.
Ao final, não é
encontrado um desfecho com "final feliz" no experimento. Simplesmente é jogada
ao ar a questão de que, o cidadão de bem,
assistindo as lutas por direitos perante os seus olhos, retrocede, não
se juntando à causa, ignorando os esforços valiosos daqueles que fizeram de
tudo para sair da conformidade de suas vidas monótonas.
Matéria por: Matheus Neves
Matéria por: Matheus Neves
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