POEMAS VENCEDORES CONCURSO NA LONA
urrando
o tórax prepotente
e a
barriga aberta, o feto jogado
preso
ao cordão umbilical dilacerado
deito-me
ao lado seu
pego
no cordão e fecho a mão em sua volta
chupo
o sangue feito canudo em suco
lambo
a placenta sedento pela secreção jorrante
prazer
cuspo
em muco de plasma e pus
chupo
seiva quente de seu corpo
embebendo
seus órgãos com minha saliva
mordendo
a boceta sob a sombra do embrião desfigurado
deito
ao lado do marido definhado
pelado
corpo
cortado, já fodido e já sorvido em trago
corto-lhe o prepúcio com a tesoura e mordo e mordo e mordo
sinto
a textura plástica do seu resto de pele
engulo
seu esperma espalhado enquanto grita
implorando
a mim que pare
mas
intenso sigo os passos de seu sangue
experimentando
deliciosamente as dores do par
rasgamos
as vísceras ácidas sob a tua penumbra.
meus
olhos
meus olhos marejados
a dor do meu irmão
pequeno, frágil, oprimido
meus
olhos
meus olhos avermelhados
de ódio do meu irmão
impetuoso, cruel, opressor
meus
olhos, meus olhos
meu coração apertado
sangrando,rasgado,esvaído
quase sem cor, inerte
quase sem cor, inerte
dor!
Olhos que sangram
a mão levantada
o assédio IMORAL
a força bruta que rasga o induto
que fere a alma
que impetra
penetra
dilacera
mata
a morte,
a morte em vida
de uma vida sofrida
que ainda resiste, no céu que incide
na boca um intento
afogado
nas lágrimas, da noite escura,
fria, sombria, SOCORRO!
pinga, pinga, pinga
toque gelado líquido do seu
interior
vermelho molha pedra e passo de
gente rotineira
paralelepípedo de pretéritos
pinga, pinga, pinga
furo, furo, furo
lata mordida de balas
numeração fria de perícia
eu sou o décimo-quarto projétil
furo, furo, furo
roda, roda, roda
entregue ao tempo
segue um mundo fictício
engole a seco o vácuo de notícias
roda, roda, roda
faca, faca, faca
seu nome substituído
por farda posta em oposição
suposto grito nacional
faca, faca, faca
arma, arma, arma
quem te tirou a voz?
quais poderes te deram não?
quantas te empunharam?
arma, arma, arma
solta, solta, solta
puxa um braço
sou mais forte
retoma com um empurrão
solta, solta, solta
outra, outra, outra
em teu nome surgirá
para com a fala entrar
entre velhos sabichões
outra, outra, outra
some, some, some
surge um nome sem filiar
rosa e azul mesclados
é filha do seu tom
some, some, some
salto, salto, salto
toque frenesi sobre piso espelhar
enxame de vozes carniceiras, ela é
sensível demais
até que pisa em gravatas
incriminadas, estou presente
salto, salto, salto
falo, falo, falo
caia, caia, caia
falo
caia, caia, caia
falo, falo, falo
POEMAS DESTAQUE
DESCONECTADOS
DESCONECTADOS
Com a
natureza
Com o
primórdio
Com a
essência
Com o
cosmo
As feras são deles diferentes
São irracionais por isso inconsequentes
Não há humanidade nelas
Só selvageria,
selvageria nas feras
Deslocados no espaço
Alma boa, e corpo frágil
Estaria Platão certo e todos
errados?
A mente fraca é oficina do diabo
Corpo profano, alma pura
Reminiscência é a cura
Onde está a humanidade?
Onde está a bondade?
Crueldades, e crueldades
Alma pobre, corpo pobre
Não há verdade maior que essa
verdade
Espíritos
nazistas
Bem
distantes de boas harmonias
Mentes que
nem as fadas contagiam
O amor se propaga
Mas corações de pedra
Tanto ódio, tanto ódio
Esse é o deus que eles veneram
Gritos
em silêncio
Por
novos tempos
Crueldade,
crueldade
Onde
estará a bondade?
Não se
importam não
Mentes
frias
Pessoas
sem coração
“Que
exterminem o diferente!”
Eles
gritam
Corações
de pedra
Corações
vazios
Não respeitam nada
Muito mal a si
Não amam nada
Nem mesmo a si
Crueldade humana
Desligamento de si
Tanto ódio e desrespeito
Esvazie-se de si
Desconectados
Com a natureza
Com o primórdio
Com a essência
Com o cosmo
C O
N S I G O
Por: Victor dos Anjos
IMPIEDADE
Vou esmagar seu lixo
Mandem os mortos
Nos incineradores já há
corpos
Deixem elas arderem na fogueira
Joguem pedras
Deixe elas nuas no meio das ruas
Estuprem, eu garanto que ela vai gostar
Mas não abra os olhos
Diga que não viu
Que se confundiu
Que a saia te atraiu
Mulheres modernas, com pau no meio das pernas?
Oh meu deus, que aberração
Deixem elas definharem na esquina
A AIDS matará antes dos 30
Não estenda a mão
E se possível, negue o pão
Não deixem a carne viva
apodrecer na rua
Os abrigos são pra isso
São pra recolher os mortos
vivos
Sem banho, sem comida, sem vida
Não olhem agora
Mas tem uma coisa do outro lado da rua
Ele é preto
E vai te assaltar
"Me dê uma moeda. É pra comida"
Assim que ele vai começar
Nunca estenda sua mão
É perigoso
Você pode ser tocada
E acabar infectada
Nunca se sabe por onde essa gente passou
"O sofrimento é por culpa do pecado"
Disse o religioso que colocou o pau no lugar errado
E está montado
Na fortuna
Surrupiada com os votos lá da urna
Não olhe nos olhos
Não fale
Não respire muito próximo
Não creia nas palavras
Eles podem estar preparando uma revolta
Pra destruir a família tradicional
Que lavou todo o nosso real
Desvie o dinheiro
Eles nem vão notar
Que estão pagando caviar
E levando a sacola com um pacote de arroz
E o resto é ar
Os pobres não precisam de dinheiro
Já se acostumaram a viver na
beira do bueiro
Tirar a última esperança
É um tiro se misericórdia
Acelera a morte já programada
Pela sua classe bastarda
Nós somos crueis
Crucifique-o
Revolte-se
Urre
Exclua
Lamente
Dilacere-o
Abomine
Destrua-o
Elimine
Por: Vinicius Santos